"Naquele banco está faltando ele..." - por Divina Bertalia


A maior riqueza de uma comunidade, independente de que segmento em que se insere, está concentrada no seu patrimônio humano. Quando cheguei à Paróquia de São Domingos em setembro de 1989, percebi logo que se tratava de um ambiente privilegiado não só pelas qualidades do seu dirigente espiritual, mas também pelo qualificado elenco de seus membros leigos. Nesses 22 anos de convivência aprendi muito com essa convivência humana, nos seus diversos momentos de religiosidade, de estudos, de festas e mormente de exacerbada sensibilidade social, pelas inúmeras iniciativas de prontidão, gratuidade e solidariedade humana que testemunhei. Sempre me impressionou a grandiosidade do templo, cuja construção teve início em 1965, por idealização de monsenhor Nazareno Maggi. Uma excelente estrutura que foi pensada para o futuro,uma vez que , na época, uma capela atenderia as necessidades dos poucos moradores do bairro. Conheci, aos poucos, os verdadeiros e literais alicerces do São Domingos, aqueles que já se faziam presentes quando do lançamento da pedra fundamental da construção da igreja. Muitos deles ainda nos dão o privilégio da convivência. Três deles, porém, já não estão mais entre nós. Foi em dezembro de 2005 que ficamos órfãos da presença do Sr. Santo Cometti, cujo nome já traduz a sua pessoa. Durante 16 anos era ele quem eu abraçava primeiro, ao final das celebrações, pois Dona Antonietta e Sr. Santo Cometti eram meus companheiros de banco, logo na segunda fila, à direita do altar. O único jeito de parar de chorar a cada vez que olhava o seu lugar vazio, foi passar a sentar-me nele. O ano de 2011, porém, trouxe mais duas perdas irreparáveis para o São Domingos: em maio, falecia o Sr. Eduardo Vitti, sobre quem sinto-me incapaz de escrever algo, tamanha a sua magnitude humana. A sua ausência deixou uma enorme lacuna nos bancos do lado esquerdo do altar, mais ou menos na altura do terceiro pilar. E agora, no penúltimo dia do mês de julho, dia 30, estando eu fora de Americana, recebo a triste notícia da morte do Sr. Eduardo Benazzi, que , juntamente com a esposa Mércia, o filho Daniel, a nora Cecília e a querida netinha Manoela, também se sentava ao meu lado, bem à frente do altar, local sagrado onde ele sempre esteve presente. Na última celebração litúrgica em que estive no púlpito nesta semana, olhei para a frente e vislumbrei um mar de pessoas atentas e com um triste semblante no olhar. Pensei que certamente aqueles bancos da Igreja Matriz de São Domingos já registram a falta de muita gente boa, que não está mais entre nós. Dentre esses, lembrei-me da Alice, esposa do Hélio Covolan, que nos deixou em dezembro de 2002, cuja ausência é sentida nos bancos da esquerda do altar, na altura também do terceiro pilar. E, assim, premidos pela finitude humana, sabemos que esse é o ciclo da vida. Não pertencemos a este mundo, a ele fomos emprestados pela infinita bondade de Deus, que nos concede o dom da vida e a capacidade de usá-la para semear boas sementes, daquelas que frutificarão sempre, como é o caso desses nossos queridos companheiros de comunidade do São Domingos, que já partiram para a Pátria Celeste. Legaram-nos, com rara maestria, o privilégio de poder continuar colhendo e aplicando as suas mensagens de vida no nosso dia a dia. Sinto, porém, que terei um enorme desafio durante as celebrações no São Domingos, pois doravante, a cada vez que olhar para o meu lado esquerdo, lembrarei de Eduardo Benazzi e terei a certeza de que naquele banco está faltando ele...

Divina Bertalia é vereadora pelo PDT