Uma história de quase duzentos anos está submetida ao silêncio. Após um vendaval ocorrido em dezembro de 2002, o Casarão do Salto Grande foi fechado para visitação do público, já que o telhamento do prédio ficou bastante prejudicado e aumentaram ainda mais os problemas físicos que já existiam no local que abriga o Museu Histórico e Pedagógico “Dr. João da Silva Carrão”.
Para mudar essa realidade, setores da sociedade de Americana começam a se mobilizar para colocar em prática um projeto de restauração, que pretende resgatar a memória guardada no Casarão. Hoje, apenas poucos estudantes – que participam do Projeto Raízes da Prefeitura de Americana – utilizam alguns dos espaços do prédio, que já chegou a receber a visita de 38 mil pessoas em um único ano de atividades intensas.
“A idéia de fazer o projeto de restauro surgiu quando a Secretaria de Cultura, por meio da Mônica Rehm, administradora do Casarão, nos procurou para ver como a gente poderia salvar este importante patrimônio do nosso município”, conta Ana Paula Pontes, uma das sócias da Produtora Cultural 3Marias. “Então, junto com o Salvador De Capua, que é um restaurador conceituado, e Juliana Binotti Pereira, que é uma arquiteta especializada em restauro, fizemos o projeto”.
Ana Paula explica que, depois de pronto, o projeto foi encaminhado para o Ministério da Cultura. Lá, ele passou pelas várias etapas de uma avaliação rigorosa e demorada, de quase um ano, e por fim foi aprovado em 2006. Assim, o projeto ficou apto a receber recursos da iniciativa privada, previstos pela Lei Rouanet, e também de pessoas físicas que queiram colaborar na recuperação do Casarão.
Mas, para colocar em prática, ainda faltam os apoios. “Temos muitas empresas aqui e até mesmo pessoas físicas que podem, e estão dispostas, a repassar parte do seu imposto de renda para esse projeto. O que falta é mais informação e divulgação do que ele vem a ser”, relata Ana Paula.
Com o objetivo de divulgar e conseguir os recursos necessários para não perder a aprovação do projeto, que expira no final deste ano, foi criado na Câmara Municipal de Americana o Grupo Pró-Casarão, coordenado pela vereador Lurdinha Ginettti (PDT). Formado por representantes do Executivo, do Legislativo e também da sociedade civil organizada – como a Acia (Associação Comercial e Industrial de Americana), Sinditec (Sindicato das Indústrias de Tecelagem), 3Marias Produtora Ltda., entre outros – o grupo tem buscado apoios para a restauração do Casarão, principalmente a partir de visitas a empresas que possam ajudar de alguma maneira.
O projeto visa tanto a restauração necessária, quanto a implantação de melhorias na infra-estrutura. “Além da recuperação do telhamento, da reposição de taipa de parede, da descupinização e várias providências que estão previstas dentro do projeto, também temos a previsão da instalação de elevadores para pessoas com deficiência motora e adequação de sanitários”, informa Mônica Rehm. “Vamos poder equipar o museu com uma sala de exposição institucional dos patrocinadores e teremos uma ala também que vai estar reservada para um auditório, onde a gente vai poder recepcionar convenções e executar trabalhos informativos do acervo dentro do museu”.
Mônica aponta que, com a execução do projeto, será possível aumentar as atividades do museu, que poderá trabalhar com testemunho social, atividades eco-ambientais. Mônica lembra que o Casarão está situado em um complexo de área de preservação permanente, próximo ao Rio Atibaia, Jaguari e à cabeceira do Rio Piracicaba.
A pessoa jurídica que desejar ajudar o projeto de restauro do Casarão do Salto Grande com abatimento no imposto de renda pode destinar até 4% do valor a ser pago, desde que seja tributado pelo lucro real. Já a pessoa física, pode destinar até 6%. Para concretizar o apoio, a pessoa interessada deve procurar a Secretaria de Cultura e Turismo de Americana ou a Produtora 3Marias e informar que deseja investir no projeto do Casarão.
A pessoa jurídica ou física faz um repasse direto em uma conta corrente, aberta no Banco do Brasil especialmente para o projeto, recebe um recibo no valor do depósito efetuado e, quando for declarar o imposto de renda, pode abater do valor recolhido pela Receita Federal.
História e acervo: “Um local quase único”
Em 1982, o Casarão do Salto Grande foi tombado como patrimônio histórico do Estado de São Paulo pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo) e, mais recentemente, o Condepham (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico de Americana) ratificou o tombamento, reforçando sua importância. Em menos de dois anos, o prédio de reconhecido valor histórico, cultural e arquitetônico deve completar duzentos anos. O local foi uma sesmaria concedida em 1790 e ocupada a partir de 1799. No entanto, de acordo com estimativas de especialistas, a construção - totalmente em taipa - foi finalizada em 1810, no período Brasil-colônia, sendo erguida com mão-de-obra escrava. São aproximadamente dois mil metros de área construída, 36 cômodos só na parte do sobrado, além disso, as madeiras da estrutura do prédio foram extraídas da Mata Atlântica original - já extinta.
Atualmente, a estrutura física do Casarão apresenta muitos problemas. De acordo com a administradora do local, Mônica Rehm, a infiltração e o ataque de cupins estão entre os principais. “Nós temos as paredes em taipa e a infiltração cria corredores por entre elas. Por isso a urgência em sanar esses problemas, para que o museu possa realmente sobreviver a mais duzentos anos e estar aqui para outras gerações”, diz a vereador Lurdinha Ginetti.
Com relação ao acervo que ficava exposto no museu, a administradora explica que a prefeitura tem investido já há alguns anos pra que ele seja preservado. “Não só durante a reforma, mas como uma condição de preservação da história”, conta. “Nós temos trabalhado com a catalogação desse acervo, detalhando as características das peças, realizando pesquisas. O tempo da reforma e a demora para reabertura é o tempo que nós vamos demorar para poder retomar a exposição desses objetos”, reforça Mônica. As peças do acervo são de coleções particulares, como de médicos e pessoas políticas. “A restauração do museu é um compromisso social, porque vamos retomar a história da construção de uma sociedade, dos usos e costumes que se fizeram presentes”.
A administradora ressalta a importância do acervo ser visto dentro do prédio do Casarão do Salto Grande pelo caráter histórico e a contextualização que a situação possibilita. “Se a gente pensar que Americana tem a data de fundação ligada à construção de Carioba e da Estação Ferroviária, em 1875, a história deste prédio antecede muito mais no tempo e possibilita uma visita a um lugar extraordinário, quase que único”.
(Texto publicado originalmente no jornal Recantos da Terra, edição de julho de 2008)
Publicado por: Assessoria de Comunicação