A Câmara Municipal de Americana realizou na quarta-feira (3) uma audiência pública para debater medidas contra a poluição atmosférica na região do Cariobinha. Participaram os vereadores Thiago Martins (PL) – autor do requerimento que motivou a audiência –, Gualter Amado (PDT) e vereadora Professora Juliana (PT); o procurador jurídico da prefeitura de Americana, João Mancuso; o presidente da Associação de Moradores do Jardim Pau-Brasil, Adimilson Antonio Dotti; o representante da Associação Amigos da Gruta, Eduardo Coienca; e o representante do grupo responsável por ação civil pública que gerou um inquérito civil referente à poluição atmosférica na região, Rubens Zaoral, além de moradores da região e representantes de instituições e grupos interessados no tema.
Na abertura da audiência, o vereador Thiago Martins explicou que o objetivo da reunião foi criar um espaço de compartilhamento de experiências entre moradores da região. “Estamos discutindo um problema que é da cidade toda, não apenas do Cariobinha, e vem acontecendo há anos. Para mim não é surpresa que a empresa Suzano não tenha enviado representantes, porque isso só reforça a omissão em relação à cidade. Recentemente aumentou muito a ocorrência de forte odor e barulho na região onde a empresa está localizada. A empresa utiliza o território de Americana sem pagamento de impostos, já que está sediada em Limeira, e faz uso da malha viária da nossa cidade destruindo o asfalto devido ao tráfego intenso de caminhões pesados. Cada vez mais a população tem sido prejudicada”, comentou o parlamentar.
A vereadora Professora Juliana defendeu a criação de comitê para trabalhar a questão entre diversos representantes da sociedade e do poder público. “Nós sabemos o quanto esse risco ambiental impacta a vida das pessoas, e não é só no Cariobinha que ocorre a poluição, porque se trata de poluição atmosférica, que se dissipa e afeta a todos. É lamentável que faltem hoje tantos representantes do poder público, nós precisamos compreender como a prefeitura se coloca diante dessa situação, porque há uma série de omissões em relação à legislação ambiental. Fizemos audiência sobre mobilidade urbana e sobre a questão climática, isso impacta diretamente no aquecimento global. Seria também importante a vigilância sanitária aqui presente para que dispuséssemos de dados para compreendermos o alcance do problema”, sugeriu.
Os impactos nos problemas respiratórios e a sobrecarga nas unidades de saúde foram apontadas por Gualter Amado como consequência da poluição do ar. “Temos hoje uma audiência prejudicada pela ausência de autoridades, mas a palavra da população presente aqui hoje tem muito valor para que a gente possa fazer o encaminhamento das dificuldades enfrentadas. Se hoje temos tantos problemas nas Unidades de Pronto Atendimento e no Hospital Municipal isso também se atribui à poluição atmosférica dessas empresas que não respeitam as leis ambientais”, explicou o parlamentar.
Rubens Zaoral compartilhou suas experiências em movimentos de moradores que se reúnem para denunciar a poluição no entorno da empresa. “Meu primeiro emprego foi na Ripasa, por isso eu sempre convivi com o odor incômodo que é resultado da produção dessa empresa e isso quer dizer que essa luta existe há muitos anos. Presenciei muitas manifestações populares contra o problema, e eu criei um grupo para reunir pessoas. Com nosso trabalho conseguimos a abertura de um inquérito civil, a promotoria deu prazo para que a Suzano e a Cetesb resolvessem o problema, e até hoje não conseguimos comprovar nem o pagamento das multas que foram aplicadas à empresa. Hoje estamos coletando assinaturas em um abaixo-assinado para trazer essa questão ao Poder Legislativo, ao prefeito e reforçar ao Ministério Público”, disse o morador.
A participação da população no debate foi destacada por João Mancuso. “Nosso colega aqui presente diz que está em Americana há mais setenta anos, mas eu sou morador há apenas um ano, e escolhei o São Domingos para residir. Estou convivendo com o indesejado cheiro, e vejo que todos nós que nos incomodamos tomamos a atitude de estar aqui, minha fala é em solidariedade a essa causa. Acredito que essa é forma correta enquanto sociedade civil organizada para levarmos essa reivindicação para os órgãos competentes”, defendeu o procurador da prefeitura.
José Agnaldo, do bairro Jaguari, usou a tribuna para questionar o uso de recursos tecnológicos para averiguação do odor presente no ar. “Não estamos aqui pedindo o fechamento da empresa, que é muito importante na geração de empregos na região. Esse gás é extremamente danoso, sendo louvável essa iniciativa da Câmara no dia de hoje. Existe um equipamento que mede odor e já se passaram tantas administrações na prefeitura e nada disso foi feito. Esse medidor permite que possamos notificar a empresa, precisamos cobrar isso”, falou.
A exposição a altos níveis de enxofre, que se caracteriza pelo odor notado pela população, é muito perigosa para a saúde pública, segundo Coienca. “Nosso foco é a questão da poluição da Gruta, mas acompanhamos todas as audiências da Câmara que tratam do meio ambiente. Já fizemos parcerias com a Suzano em ações ambientais, como plantio de árvores, porém isso não impede a nossa presença nesse debate; mas a Cetesb tem parcerias com a empresa, sendo que é um órgão fiscalizador, isso é questionável. O uso da celulose não resulta apenas em poluição do ar, mas também resíduos em recursos hídricos despejados no Rio Piracicaba, no desmatamento de florestas nativas, na poluição visual do ambiente urbano e na emissão de ruídos, afetando toda a biodiversidade”, comentou.
Wesley Koide, morador do bairro Jardim Pau-Brasil, expôs suas dúvidas sobre as ações do poder público em fiscalizar a empresa. “Sou morador há 20 anos e sempre sentindo o mesmo odor; eu acredito que os responsáveis pela empresa nem moram aqui, senão já teriam resolvido a situação. O que nos deixa em dúvida é sobre os parâmetros adotados pela Cetesb para avaliar essas emissões, porque não é possível que todos sejam afetados sem que a autoridade fiscalizatória tome alguma providência. E uma sugestão que eu trago é para que faculdades locais pensem em estratégias pra gente tentar superar esse problema, então eu espero que nos tragam essas respostas”, apontou.
A mobilização popular e a coleta de provas que evidenciem a poluição foram apontadas como formas de pressionar a empresa, de acordo com a advogada aposentada Carmem Silvia Erbolato. “Nasci em 1941 e tenho muito orgulho de ser brasileira, viemos de um sistema patriarcal e sempre esperamos que os outros façam pela gente; precisamos nos mexer. Será que é proibido colocar uma estação de medição nos condomínios ao redor? Nós temos que tomar uma atitude concreta, além de irmos para a internet e fazer valer nossa voz sobre o que está se passando. Peço aos jovens e aos idosos que não tenham medo e enfrentem e que os presidentes de associações de moradores juntem provas contra essa empresa”, discursou a moradora.
Ainda durante a audiência, Martins leu nota oficial emitida pela Suzano e encaminhada a órgãos da imprensa local. “Minutos atrás a Suzano lançou uma nota na qual diz que a produção de celulose não gera qualquer gás prejudicial e que segue todas regulamentações ambientais vigentes. Porém, não temos acesso a laudos e respostas sobre essas questões que colocamos aqui, é lamentável que não tenham enviado um representante”, finalizou.
Publicado por: Coordenadoria de Comunicação