Não seria exagero afirmar que em cada centímetro do Casarão Doutor João da Silva Carrão, mais conhecido como Museu do Salto Grande, cujo restauro teve início no dia 16 de outubro, estão guardados tesouros do início da história de Americana. No entanto, para os funcionários que estão trabalhando nas obras do local essa afi rmação pode ser feita de forma literal, já que os próprios responsáveis pelo meticuloso trabalho estão surpresos com as descobertas feitas a cada dia no enorme prédio construído no fi nal do século 19. "Essa construção é um tesouro, apesar da má preservação e falta de obras de manutenção. Só em Minas Gerais ainda temos casarões dessa magnitude ainda em pé. Nas outras cidades aqui de São Paulo, eles já não existem mais há muito tempo", comentou o restaurador responsável pela reforma do casarão, Salvador de Cápua. Nesta primeira etapa estão sendo feitas as trocas de telhas e madeiramento da edifi cação, e é justamente neste ponto que estão os "mistérios" mais interessantes do local. "Temos vigas que pesam mais de uma tonelada. É um assombro pensarmos que essas madeiras foram levantadas pelas mãos dos escravos da época, sem nenhum tipo de equipamento", comentou Cápua. Os vidros que adornam as janelas das enormes janelas da casa também chamam a atenção, por virem da Europa, numa época que vidro era sinal de riqueza extremada, mesmo para a mais alta nobreza da recém- independente República Federativa do Brasil. Apesar da infl uência da arquitetura portuguesa, é possível encontrar em detalhes do casarão traços de outras escolas, como a grega e a italiana. Outro ponto que chamou a atenção dos engenheiros, assim que eles chegaram ao local, foi a perfeita similaridade entre as laterais do prédio e a preocupação do construtor Manoel Teixeira Villela, o primeiro dono da casa, em deixá-lo imponente. "O terreno foi escolhido para que quem chegasse aqui na região da Carioba pudesse vê-lo sem nenhuma barreira", completou o restaurador.
DE MÃO EM MÃO
Virella deu início à construção do casarão em 1799, mas até 1904, quando a família Müller o comprou, o prédio passou por várias "mãos". Em 1974, a Prefeitura Municipal de Americana o obteve, transformando em museu a partir de 1976. O local funcionou até dezembro de 2002, quando um forte tornado destruiu parte do telhado que já não se encontrava em boas condições. Após anos de discussão e busca por investidores da iniciativa privada, a Secretaria de Cultura e Turismo de Americana conseguiu uma parceria com o Conpacel (Consórcio Paulista de Papel e Celulose), antiga Ripasa, para a restauração do prédio que completa 200 anos em 2010. A empresa disponibilizará recursos através da Lei Rouanet para a primeira etapa do restauro. O cronograma de obras prevê, inicialmente, a restauração do telhado, madeiramento e beiral, que estão entre as partes mais deterioradas do prédio. Segundo secretário de Cultura e Turismo, Fernando Giuliani, a primeira etapa do restauro está estimada em R$ 1,8 milhão. O custo total é de R$ 4 milhões. A expectativa é que até 2010, no bicentenário do Museu, a restauração esteja concluída. Enquanto funcionários correm para completar as obras da parte externa, no interior do prédio o acervo do museu é embalado e separado em categorias (iconografi a, documentos, moveis, obras de arte) para não ser afetada pelo pó. "Como demorou para o início das obras tivemos tempo de realizar esse trabalho com calma", comentou Mônica Rehn, administradora do museu.
Fonte: Caderno L - Jornal O Liberal – 11 de novembro de 2008